O texto a seguir é derivado de anotações e comentários realizados durante as minhas leituras do clássico texto "Geomorfologia do Brasil Oriental" escrito por Lester C King (Revista Brasileira de Geografia. Abri-Junho de 1956. p.
147-267).
Gráben –
definição: bloco abatido, relativamente alongado e estreito, limitado por
falhas normais. Sua definição original (Suess, 1855) referia-se a feição
geomorfológica muito mais do que tectônica
Outros trabalhos de suma importância na perspectiva de King devem ser ressaltados:
GEODINÂMICA DE SUPERFÍCIES DE APLANAMENTO, DESNUDAÇÃO CONTINENTAL E TECTÔNICA ATIVA COMO CONDICIONANTES DA MEGAGEOMORFOLOGIA DO BRASIL ORIENTAL - Roberto Célio Valadão. Revista Brasileira de Geomorfologia. https://www.lsie.unb.br/rbg/index.php?journal=rbg&page=article&op=view&path%5B%5D=132. Acessado em 20 de Dezembro de 2015.
Referência Bibliográfica:
KING, L.C. (1956). Geomorfologia do Brasil Oriental. Rev. Bras. Geografia, 18(2):147-265. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1956_v18_n2.pdf.
Geomorfologia do Brasil Oriental (Fichamento)
O riquíssimo trabalho realizado por Lester King e sua equipe (1956) faz uma comparação
entre o desenvolvimento da paisagem brasileira e africana, resultando em um enriquecimento da base geomorfológica brasileira.
King enfoca nos aspectos do Brasil Oriental (localizado entre o vale do São Francisco e o litoral atlântico) designando o que ele denominou de superfícies de erosão cíclica. Nesta região brasileira, segundo o autor existem vários
planaltos de erosão e escarpadas serras, amplos vales e espetaculares picos
gnássicos arredondados (“Mares de Morros”). Onde o relevo é
produto de: erosão – agradação – tectônica;
A tarefa de King consistiu em descrever os vários tipos de paisagem presentes na região oriental brasileira e, se possível,
classificá-las de modo a que possam ser imediata e sistematicamente
compreendidas.
Ciclos de Desnudação e Agradação
King observa que o desenvolvimento geomorfológico da região se faz pelo o que ele denominou de "Ciclos de Desnudação e Agradação", tendo ciclos mais antigos e mais jovens (6 ciclos comparados). Onde os ciclos iniciam o seu desenvolvimento a partir do litoral em direção ao interior. King destaca que é "nesta
concepção de um desenvolvimento ordenado por ciclos de erosão subsequentes é
que reside o segredo da geomorfologia brasileira" e que "alguns (ciclos) atingiram mais que outros, um estado de aplainamento (peneplanação –
pediplanação) mais avançado".
Os ciclos que King discute são os seguintes:
1) Gondwana –
superfície extremamente aplainada (Terciário Inferior);
2) Pós-Gondwana
- topografia acidentada (Cretáceo);
3) Sul-Americano (Terciário Superior e Quartenário);
4) Velhas –
nível de base no Terciário Inferior
5) Paraguaçu –
Quartenário, apresentou 2 fases, mas em nenhum ocorreu a fase de aplainamento
generalizado.
Um importante
princípio a ser colocado é o apresentado por King (1956):
“Enquanto a zona adjacente à costa e o interior do Brasil se elevarem
repetida e intermitentemente desde os períodos Mesózoico-Médio até o Recente, a
zona marinha adjacente ao litoral foi outras tantas vezes deprimida.”
O Modo de Desenvolvimento da Paisagem Brasileira
As feições morfológicas podem ser divididas
em 2 grandes classes:
I) Agradação –
processo que leva a construção de uma superfície devido a fenômenos
deposicionais;
II) Degradação –
processo de destruição do planaltos retilíneos.
Segundo King, a paisagem
brasileira na região estudada evoluía e evolui, pela
regressão de escarpas e pedimentação, apresentando aspecto
escalonado. Onde a ideia geral é que cada superfície aplainada permanece
virtualmente inalterada até que é alcançada e destruída pela escarpa do ciclo
de erosão posterior, abaixo e além do qual se desenvolve a pediplanície do
novo ciclo.
A Sucessão de Superfícies de Desnudação e Agradação
Primeira série
– ciclos de erosão ou desnudação.
Segunda série
– ciclos de agradação ou sedimentação.
Na junção das
duas acima, acha-se escrito na paisagem a história da evolução da paisagem
oriental brasileira.
O Ciclo de desnudação Gondwana
Ocorreu em
todo o período Jurássico (+/- 199,6 a 145,5 Ma), com característica de uma planície
extraordinariamente uniforme (terciário inferior) e de ocorrência nos divisores mais importantes, ocupando a posição mais alta em relação aos
próprios cumes, a superfície Gondwana apresenta boas razões para que seja
considerada como a superfície mais antiga do Brasil atual.
Fazia parte da
topografia do antigo continente austral Gondwana.
O Ciclo de Desnudação Pós-Gondwana
Possui aspecto de raramente se
apresentar bem aplainada (topografia acidentada, como a região da serra do Caparaó). De idade quase
tão antiga como a superfície Gondwana.
“Esta
superfície forma uma zona de terrenos acidentados entre uma remanescente da
superfície Gondwana e a superfície Sul-americana, como acontece na região do
divisor entre o oeste e o leste mineiro.
O Ciclo Sul-Americano
Foi esculpida
durante o Terciário Inferior e atingiu grande uniformidade de aplanamento. Os
remanescentes aplainados desta superfície ainda a individualizam, apesar da
dissecação subsequente, como a superfície fundamental a qual a topografia
moderna foi esculpida. Têm-se:
- Aplainamento entre o Cretáceo (+/- 145 a 65,5 Ma) e o início do Mioceno (23,3 a 5 Ma);
- A Sedimentação
no Terciário Médio.
As planícies
do ciclo Sul-Americano foram soerguidas no Terciário (+/- 20 Ma), fim do
Oligoceno, provavelmente. Ao qual nas várias
depressões, acumularam-se numerosos depósitos paludais e lacustres.
O Ciclo de Erosão das Velhas
Raramente
atinge a fase de aplainamento generalizado. Mesmo quando
atinge o aplainamento, a superfície Velhas frequentemente apresentam
remanescentes, isolados ou em grupos, que se elevam a semelhança de
“inselbergs”; Tendo:
- Paisagem
ondulada, pedimentada e dissecada.
- Formação do
grupo Barreiras (extensos depósitos arenosos)
O Ciclo de Erosão Paraguaçu
Caracteriza-se
pela abertura de grandes vales, onde o presente
ciclo agiu sobre área relativamente grande na Bahia e uma pequena área em Minas Gerais. Nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo este ciclo é responsável pelo aspecto magnificante escarpado na zona
costeira, por exemplo, a escarpa “frente” a Serra do Mar.
As feições
semelhantes que provavelmente existiram nos ciclos de desnudação anteriores
foram eliminadas com a continuidade da desnudação, porém o curto período desde
o início do Pleistoceno (1,8 Ma), quando o ciclo Paraguaçu iniciou sua ação,
foi só suficiente para mascarar as diferenciações e não para obliterá-las
completamente.
Acumulações Recentes
Das superfícies que se desenvolveram no Brasil desde o Paleozóico (542-359 Ma) Médio,
cada uma apresenta características próprias que são memorizadas pelo observador
que aprende a interpretá-los (nota do autor).
Essas
características são: forma, distribuição, altitude, jazimento e as camadas de
recobrimento associadas.
A Influência do Clima e da Rocha Matriz Sobre a Paisagem Brasileira
- Clima – fator
externo de modelação (morfoclimático, Ab'Sáber – 1951);
- Rocha –
Geologia – fator interno estrutural (morfoestrutural, Azevedo – 1942)
O principal
elemento controlador do desenvolvimento da paisagem brasileira é representado
pela sequência de ciclos de desnudação. Onde somente os
tipos de rocha de excepcional resistência permanecem como afloramentos.A destruição
de pontões mostra que não são relacionados a um único ciclo de desnudação,
aparecendo sobre as superfícies cíclicas Sul-Americana, Paraguaçu e Velhas,
sempre em fase de Juventude (lembrar de Davis, 1899) em relação ao ciclo
correspondente e sobre a rocha matriz apropriada, isto é, gnaissica.
Observações Regionais
As superficies
podem se convergir – como acontece em Sete Lagoas, onde o Pós-Gondwana e o
Sul-Americano se convergem aparentemente em uma única superfície.
A evolução da
área em estudo inclui aplainamentos sucessivos que foram interrompidos por
repetidos soerguimentos, cada soerguimento tendo basculado a região em direção
ao norte, segundo um antigo eixo de elevação máxima orientado em direção que
varia de leste-nordeste a oeste-sudoeste;
O soerguimento
máximo, no sul, deve ter elevado a superfície Gondwana e talvez grande parte da
superfície pós-gondwana a altitudes tão grandes que essa superfície desapareceu
sob a ação da erosão subsequente (maior poder gravitacional).
A região Entre o Vale do São Francisco e o Mar
O ciclo Paraguaçu se desenvolveu em duas
fases:
I) marcada por
terraços que continuam muito para o interior;
II) e uma fase
de fundo de vale.
Tanto o ciclo
Velhas e o Paraguaçu são difásicos e marcados por terraços.
A Serra Geral e
Arqueamento Associados
Principal
cadeia montanhosa entre o Vale do São Francisco e o Mar (Espinhaço).
Diamantina – derivação pós-gondwana, mas tem
a ocorrência de alguns aplainamentos;
O Vale de Afundimento do Rio São Francisco
Na Bahia, a
leste de Paramirim é a área mais elevada, onde é possível distinguir, em ordem
ascendente, as 5 superfícies cíclicas mais importantes: 600-700 m (Paraguaçu),
950 m (Velhas na crista escarpada da falha), a +/- 1000 m (Sul-Americano, um
pouco acima e atrás do ciclo Velhas), Pós-Gondwana (topografia de grande
altitude), a +/- 1800 m (derivados de Quartzitos Italocomi, alguns exíguos
remanescentes do aplainamento Gondwana).
A Área Elevada do Rio de Janeiro e Estados Adjacentes
A partir de
Vitória-ES, estende-se para sudoeste, através de todo o estado do RJ e
atingindo SP, uma zona de terrenos bastante elevados (soerguimento, constatado
pelas grande alturas, mas também pela abundância de rochas gnáissicas –
metamorfismo).
Apresenta morros residuais (300 a 350 m), tipo Inselberg. A sudoeste de
Vitória, próximo a Guarapari e novamente em Inconha, quase não existe a baixada
costeira e os grupos de pontões estendem-se para o oriente quase até o mar. Nesse caso, o aplainamento Sul-Americano arqueia-se em direção a plataforma
continental;
O mesmo ocorre
nas cabeceiras do rio Muiraé, sendo possível observar o ciclo Paraguaçu a
360-400 m nos arredores de Carangola, onde também o ciclo das Velhas aparece
como um sistema de esporões aplainados a cerca de 600 m, apresentando as
cristas aplainadas do ciclo Sul-Americano entre 800-900 . Para NO, os
resquícios/remanescentes do ciclo pós-gondwana permanecem nas partes mais
elevadas da serra, em torno de 1200 m, com possíveis remanescentes da
superficie Gondwana a 1800-1900 m. As relações entre as superfícies cíclicas
são, todavia, complicadas por falahamentos que acompanham a elevação da serra
(o maior exemplo é o Pico da Bandeira, que se eleva a 2890 m, por movimentos
diferenciais)
Serra do
Caparaó – Formação – arqueamento do planalto Sul-americano segundo um eixo de
direção nor-nordeste, acompanhado pela ação de fraturamentos subsidiários que
provocam grandes elevações próximo ao Pico da Bandeira, arqueamento Crustal.
Serra do Mar
como uma “escarpa de falha” (R. O. De Freitas, 1950). O autor cita a seguinte
sequência de características associadas a Serra do Mar:
a) alinhamento
das rochas cristalinas;
b) limites e
bordas retílineas;
c) vales
suspensos;
d) elevações
assimétricas;
e) o contraste
entre a drenagem na escarpa e no planalto;
f) ausência de
capturas;
g) topografia
escalonada (em degraus);
h) coincidencia
da topografia com a direção da xistosidade;
i) adaptação da
drenagem;
j) ausência de
correlação entre a morfologia e a dureza das rochas.
Porém, Rich
(1953, p. 26) não conseguiu registrar e identificar qualquer falha ou escarpa
de falha ao longo da frente de serra... a topografia resulta do esfacelamento,
pela erosão, de uma estrutura monoclinal... sob o ataque de agentes erosivos,
suficiente para explicar a origem da serra, desde o Terciário Superior.
OBS: A Serra do
Mar não apresenta: I) desabamento ao longo das zonas de falhas; II)
deslocamento abrupto de camadas; III) deslocamento das superfícies de erosão.
Consequências Tectônicas
Na região
adjacente à costa, formou-se uma íngreme estrutura monoclinal que levou a
superfície até além da atual linha de costa;
Só localmente,
onde os soerguimentos atingiram um máximo, o arqueamento foi superado por
falhas, como nas partes superiores dos vales de afundimento do São Francisco e
do Paraíba e provavelmente na área do Pico da Bandeira, durante o Pleistoceno,
e na íngreme estrutura monoclinal do Rio de Janeiro em época mais recente;
A regularidade e a
repetição notada nos movimentos que deformaram as várias superfícies cíclicas
fazem crer em uma única força deformante que teria iniciado sua ação desde o
Mesozóico Médio. Cálculos preliminares sugerem que, para secção entre Curvelo
e o Rio de Janeiro, esta força é a simples compensação isostática que se seguiu
a cada uma das fases de desnudação; a observação de que a zona de falhas
associada a estrutura monoclinal do Rio de Janeiro parece ter sido deslocada
cada vez mais para o interior após cada soerguimento, vêm ao encontro desse
ponto de vista.Outros trabalhos de suma importância na perspectiva de King devem ser ressaltados:
GEODINÂMICA DE SUPERFÍCIES DE APLANAMENTO, DESNUDAÇÃO CONTINENTAL E TECTÔNICA ATIVA COMO CONDICIONANTES DA MEGAGEOMORFOLOGIA DO BRASIL ORIENTAL - Roberto Célio Valadão. Revista Brasileira de Geomorfologia. https://www.lsie.unb.br/rbg/index.php?journal=rbg&page=article&op=view&path%5B%5D=132. Acessado em 20 de Dezembro de 2015.
Referência Bibliográfica:
KING, L.C. (1956). Geomorfologia do Brasil Oriental. Rev. Bras. Geografia, 18(2):147-265. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1956_v18_n2.pdf.
Nenhum comentário:
Postar um comentário