Rafael Cardoso Teixeira
Os processos de erosão do solo em estado
avançado são denominados como sulcos, ravinas e voçorocas. Provenientes da
formação de grandes cavas devido a relações peculiares quanto ao uso do solo,
ao tipo de solo, ao substrato geológico e as características de relevo,
climáticas e hidrológicas. Nesses ambientes, de solos em processo evoluído de
erosão, tende a apresentar vegetação rasteira e escassa que não tem potencial
de proteger o solo que, em geral, são ocasionados pelas mudanças ambientais
induzidas pela ação antrópica, potencializando a formação de feições de alto
potencial erosivo.
Pela relação mútua entre os componentes
ambientais (vegetação, hidrografia, clima, solo, relevo e ação antrópica),
Ramos (2010) salienta que as voçorocas representam canais intermitentes de
água, onde percorrem água após chuvas com grande volume de escoamento
superficial em encostas de voçorocas acarretando intensa erosão de solos que
contribuem com representativa quantidade de sedimentos carreados em bacias
hidrográficas com desequilíbrios no uso dos solos (ARAÚJO et al., 2008). Entre
os fatores, além do tipo de uso do solo, a diversidade pedológica e geológica
dos ambientais tem alto índice de voçorocamento aliado a uso inadequado do
solo.
Quanto à geologia, regiões do
embasamento cristalino, com suas abruptas variações, contatos geológicos e
diques são suficientes para acelerar e intensificar a formação e propagação de
voçorocas pela superfície desses locais. Assim, essas variações geológicas,
incluindo rochas de caráter mais arenoso junto aos seus solos derivados em
contato com solos de textura mais fina, tem também o contato de textura de
solos ao longo de um perfil, como por exemplo, horizontes mais superficiais em
textura arenosa os horizontes mais profundos de textura mais fina (silte e
argila). Ocasionado diferenças abruptas na infiltração de água no solo e
podendo gerar fluxo lateral de água entre os horizontes.
Ravinas e voçorocas são derivadas da
tendência de sistemas naturais buscarem atingir um estado de equilíbrio, onde,
tomando os solos como exemplo, a mudança na quantidade de energia disponível
(frequência e intensidade de precipitações, teor de umidade interno aos solos,
entre outros) e na modificação das características do sistema (cobertura
vegetal, uso do solo, grau de estruturação do solo, entre outros) pode levar a
um desequilíbrio de energia no sistema em questão. Onde as ravinas e voçorocas
podem ser definidas como incisão natural resultante de desequilíbrios naturais
ou induzidas pelo agente antrópico.
Quanto à distinção entre ravinas e
voçorocas, em geral, ocorre predominância de caráter de classificação quanto à
dimensão da incisão. Onde as ravinas são incisões de até 50 cm de profundidade
e largura, e acima desses valores, têm-se as voçorocas.
As incisões citadas possuem vários
mecanismos responsáveis pela erosão, ao qual Oliveira (1999) destaca os
principais, que são:
i)
deslocamento de partículas por impacto das gotas de chuva – também
conhecido como splash erosion ou
erosão por salpico, acarreta compactação do solo a partir da criação de uma
crosta de 0,1 a 3,0 mm de espessura na superfície (partículas mais finas –
argilosas); implicando na redução da capacidade de infiltração entre 50% a
1000% (variação influenciada pelas características do solo e energia da chuva);
ii)
transporte de partículas de solo pelo escoamento superficial difuso – pode
ser compreendido como o resultado de tensões cisalhantes que superam a
resistência estática das partículas individuais. A partir do momento em que o
fluxo é capaz de manter o movimento generalizado das partículas, as forças
cisalhantes tendem a atingir o seu efeito máximo;
iii)
transporte de partícula por fluxos concentrados – ao convergir para
microdepressões do terreno, o escoamento superficial se transforma em fluxo
concentrado, formando sulcos, ravinas e voçorocas. Onde as partículas
transportadas assumem trajetórias variadas, ocasionando o efeito de corrasão;
iv) erosão por queda-d`água (plunge pool
erosion);
v)
solapamento da base dos taludes;
vi)
liquefação das partículas de solo;
vii)
movimentos de massa localizados;
viii)
arraste das partículas do solo por percolação em meio poroso e através de dutos
(piping).
Com relação à classificação das
voçorocas, os critérios mais utilizados, entre os diferentes autores, são: a
dimensão e formato da seção transversal do canal formado, área de abrangência,
a forma e a localização (rural ou urbana). As formas de voçorocas são derivadas
das variações entre relevo, solos e geologia, sendo as principais formas, as
seguintes de acordo com Vieira (2008):
Figura 1: Tipo de Voçorocas de
acordo com Vieira (2008).
Outra classificação, mais antiga, foi
realizada por Ireland et al. (1939) que agruparam em 4 tipos, que são: 1) linear, não apresenta ramificações
significativas, sendo formada basicamente pelo canal principal; 2) dentrítica (ou
arborescente), constitui o padrão predominante e se caracteriza por apresentar
um padrão de desenvolvimento de voçoroca em ramificações; 3) composta, que não apresenta
um padrão único, mas podem ser lineares e depois bulbosas, ou vice-e-versa; e 4)
indefinida, cujos canais principais estão em fase de abertura, não apresentando
ainda uma forma definida.
Autores como Fendrich et al. (1991) classificam
as voçorocas de acordo com o formato da seção transversal (formato em U e em V
– Figura 2). A voçoroca com formato em “U” é encontrada normalmente em regiões
onde o solo e subsolo são mais facilmente erodíveis, não significando
necessariamente um perfil mais estabilizado. Neste caso, as paredes são quase verticais
e a ampliação lateral é realizada por erosão superficial ou por descalçamento
da base da parede devido à ação da água subterrânea. A voçoroca com formato em
“V” está relacionada a solos que apresentam maior resistência à erosão, onde o
escoamento superficial concentrado atua preponderantemente à ação da água
subterrânea. Este formato é mais comum no início do processo erosivo, muito
embora seja frequente encontrar ambos os formatos numa mesma voçoroca,
independentemente de sua idade ou estabilização. Segue-se a figura (2)
representando as formas em “U” e “V” das voçorocas.
Figura 2: Esquema de diferentes
tipos de voçorocas de acordo com Dobek et. al (2011).
Segundo
Fendrich et al. (1991) existem quatro estágios de desenvolvimento de uma voçoroca:
1°) ocorre formação de sulcos com escoamento superficial concentrado; 2°) ocorre
aprofundamento e alargamento da voçoroca com surgimento da cabeceira da feição
devido à erosão regressiva; 3°) ocorre encontro do nível base de erosão com
formação de fundo achatado; 4°) a voçoroca começa se estabilizar, com
abrandamento dos taludes e colonização de espécies vegetais oriunda dos
escorregamentos. Onde, neste quarto estágio, provavelmente a colonização se faz
por sucessão ecológica de espécies.
Camapum de Carvalho et al. (2006)
afirmam que tanto as ravinas, quanto as voçorocas, podem assumir forma linear,
quando estão associadas às características geológico-geotécnicas e estruturais
da região, apresentando inicialmente a forma de “V” e podendo evoluir para a
forma “U” ou trapezoidal; forma de anfiteatro, quando a feição assume forma mais
concentrada, e encaixada quando a feição atinge camadas de solo menos
resistente, ficando confinada pelas mais resistentes. A tabela 1 apresenta uma
classificação de voçorocas quanto à profundidade e área da bacia
Tabela
1 – Classificação de Voçorocas
Classificação
|
Profundidade
do canal
|
Área
da bacia (ha)
|
Pequenas
|
<
1m
|
<
2 ha
|
Médias
|
1
a 5m
|
2
a 20 ha
|
Profundas/
Grandes
|
>
5m
|
> 20 ha
|
*
Adaptado de
FRENDRICH et al. (1991)
Quanto aos solos, que são os principais
elementos erodidos, Vianna et. al. (2006) destaca que “num mesmo tipo de solo
podem ocorrer taxas de infiltrações diferenciadas, ocasionadas possivelmente
pelas características morfológicas do solo, pela declividade do terreno ou
influenciada pelas características de cobertura vegetal”, somando-se também a
presença de serapilheira e matéria orgânica.
Para a compreensão dos processos de
voçorocamento a descaracterização do meio físico é entendida como o principal
elemento a ser pensado, os quais são dependentes de fatores como:
características do solo (heterogeneidade, resistência à erosão, infiltração),
características topográficas (forma, comprimento e declividade da encosta).
Quanto à recuperação em relação aos solos,
isso depende da disponibilidade de nutrientes (relacionado ao tipo de solo,
material de origem e/ou fertilizantes) e da umidade do solo, fatores que
normalmente se acham em níveis inadequados (baixos a extremamente baixos) para
a vegetação em áreas erodidas. Outro fator relacionado à recuperação é a
inclinação das encostas das voçorocas, onde as formas que tendem ao formato “U”,
por serem mais inclinadas, apresentam, em geral, maior dificuldade de estabilização
e recuperação. Enquanto as voçorocas em formato em “V”, pela menor inclinação
das encostas, em geral, tendem a serem menos problemáticas a recuperações.
A ocupação humana, geralmente iniciada
pelo desmatamento e seguida pelo uso inadequado da terra, construção de
estradas, criação e expansão de cidades, sobretudo quando efetuada de modo
inadequado, pode exercer um papel importante na origem, aceleração e aumento
dos processos erosivos. Onde se criam prejuízos tanto em campos agrícolas
quanto nas cidades (voçorocas urbanas).
Referências
Bibliográficas
ARAUJO,
S. H. G.; ALMEIDA, R. J.; GUERRA, T. J. A. Gestão ambiental de áreas
degradadas. 3.d. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2008. p.320.
CAMAPUM
DE CARVALHO, J.; SALES, M. M.; MORTARI, D.; FÁCIO, J. A.; MOTTA, N.; FRANCISCO,
R. A. Processos erosivos. In: CAMAPUM DE CARVALHO, J.; SALES, M.M.; SOUZA,
N.M.; MELO. M.T.S. (Org.). Processos erosivos no centro-oeste brasileiro.
Brasília: Universidade de Brasília: FINATEC, 2006. p. 39-91.
DOBEK, K.; DEMCZUK, P.; RODZIK, J.; HOŁUB, B. Types of
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Roztocze region, SE Poland). Landform Analysis, Vol. 17: 39–42; 2011.
FENDRICH,
R.; OBLADEN, N. L.; AISSE, M. M.; GARCIAS, C. M. Drenagem e controle da erosão
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IRELAND, H.A., SHARPE, C.F., EARGLE, D.H. 1939.
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Agriculture, Technical Bulletin, Washington DC, 633p.
OLIVEIRA,
M. A. T. Processos Erosivos de Áreas de Risco de Erosão por Voçorocas. IN:
Erosão e Conservação dos Solos, Conceitos, Temas e Aplicações. GUERRA, J,T;
SILVA, A,S; BOTELHO, R,G,M. (org.) Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
RAMOS,
I. Q. Levantamento de Voçoroca com o uso do laser scan. Seropédica-RJ, Julho de
2010. 34p.
VIANNA,
P. C. G.; LIMA, V. R. P.; LUNGUINHO, L. L.; TORRES, A. T. G.; SILVA, Araci. Estabilização
de voçoroca - subproduto ambiental do diagnóstico dos recursos hídricos, o caso
do Assentamento Dona Antonia, Conde (PB). GETAP – Grupo de Estudos e Pesquisas
em Água e Território. 2006.
VIEIRA,
A.F.G. Desenvolvimento e distribuição de voçorocas em Manaus (AM): principais
fatores controladores e impactos urbano-ambientais. Tese de Doutorado em
Geografia. Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de
Santa Catarina (PPGG/UFSC), 2008.
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