*Trabalho feito por Rafael Cardoso Teixeira e Natanael Júnior Silva Duarte pela disciplina "Organização do Espaço Mundial - (GEO 240) pela Universidade Federal de Viçosa, em 2011.
No presente texto, temos a
intenção de estabelecer uma linha de pensamento simples e clara para
explicarmos o processo pelo qual a Inglaterra assegurou a hegemonia mundial no
séc. XIX e início do XX. Devemos frisar que nesse período era o mercado quem
dava as cartas sobre a economia, pois o Estado praticamente “não existia”, ele
só passou a comandar a partir da crise de 1929.
A construção da hegemonia Britânica na Europa deu-se
devido à sua grande dominação e exploração sobre as economias asiáticas (China
e Índia principalmente), onde soube manusear o projeto de globalização de forma
explicita e concreta. É de suma importância levantar que os europeus sempre
lançaram um olhar Geográfico e não Histórico sobre as terras “descobertas”, ou
seja, eles se preocuparam apenas em explorar as riquezas materiais, deixando de
notar a gigantesca riqueza cultural dos povos locais. Essa exploração na
maioria das vezes causou a desregulamentação de sociedades milenares, “entendidas”
pelos colonizadores como atrasadas, arcaicas.
A inserção desses locais na economia que se manuseava
para ser global foi muito drástica para as localidades, pois mudou todo aspecto
econômico, político e social desses locais que tinham características de
mercado totalmente diferentes daquela implantada pela Inglaterra, o que
desarticulou toda a população local. Devemos nos lembrar de que a natureza pode
provocar a seca ou a inundação, mas ela não é a causadora da fome, está se dá
devido à má intervenção humana, e foi bem ai que os ingleses intervieram.
A irregularidade climática, propiciada pelos fenômenos l
Niño e La Niña, nos países asiáticos facilitou a desregulamentação dos mercados
locais perante as investidas inglesas. Como prova disso temos que as piores
epidemias de fome na China e na Índia ocorreram no período em que esses países
sofreram dominação imperial inglesa, onde chineses e indianos no século XVIII,
como Davis dá a entender, tinham um melhor padrão de vida que os ingleses, se
for pensar nas catastróficas populações de indigentes que viviam nos grandes
centros urbanos da Inglaterra.
Isso ocorreu devido à desarticulação do mercado local
imposta pelos Ingleses. Como exemplo dessas intervenções com o intuito de
quebrar a produção local, temos a oferta de produtos mais baratos que os locais
no mercado.
Com isso houve a quebra dos produtores locais, e o
atrelamento desses aos interesses ingleses. A desarticulação das economias
asiáticas foi arquitetada com intuito de botar o controle dos recursos locais
nas mãos da Grã-Bretanha, recursos esses que seriam canalizados e
comercializados com os demais países centrais, dando inicio a criação do
Sistema Mundo Moderno.
Essa lógica foi utilizada claramente na Índia. Os
produtores indianos deixaram de produzir alimentos para a subsistência e
passaram a produzir produtos valiosos para o grande mercado (exportação),
através dessa lógica “suicida” temos que a fome na Índia coincide com uma
gigantesca produção de papoula, dessa produção os ingleses extraíram o ópio que
posteriormente seria comercializado com os chineses.
A Inglaterra “criou” um novo tipo de fome, causada pelo
controle da produção e da distribuição, uma parte da economia muito bem
avaliada. Os interesses geopolíticos assim como o controle do mercado causaram
violentos custos sociais e ambientais, pois não há distinção entre degradação
social e ambiental, onde existe uma desordem social-econômica tende a existir
um problema ambiental, e assim se propiciou nesse país uma crise social vinculada
a uma ambiental.
Temos como “ponta pé” para a formação do sistema mundo
moderno a atuação dos países europeus desarticulando todas as outras linhas de
produção locais, África e Ásia principalmente, relacionada à captação e
controle dos recursos contidos nas colônias e por fim a distribuição desses
recursos nos mercados dos países centrais.
Circunstâncias históricas, econômicas (construídas) e
climatológicas, geraram o Sistema Mundo Moderno, não podendo colocar nenhuma em
separado como a causadora. A Inglaterra se destacou como hegemonia da época,
pois tinha recursos militares e econômicos que facilitaram a utilização dessas
circunstâncias a seu favor, como o próprio Davis diz um dado muito importante
para entender essa hegemonia: o gasto com exército chegou a custear 75% do
orçamento imperial.
Os textos do Mike Davis nos trás uma lógica muito
importante, pois nas entrelinhas de sua obra ele nos mostra que o mesmo
movimento que produziu o 3° mundo, palpado numa pobreza extraordinária da
população também produziu o 1°, ou seja, o enriquecimento do mundo ocidental
que se sustenta a partir da utilização e acumulação de recursos que não estão
presentes nos países centrais.
A dominação européia sempre procurou ser financeira e
cultural, com o intuito de expandir o mercado consumidor para além da Europa,
incorporando as colônias ao sistema, ou seja, alem de explorar os recursos, os
europeus procuraram impor novos hábitos religiosos, alimentícios, de vestuário,
entre outros, sobre os países orientais.
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