*Trabalho feito pela disciplina Teorias da Geografia, no primeiro semestre de 2011. Este trabalho foi feito após a discussão sobre o que fazer em um trabalho que tinha como critério a escolha de um tema que relaciona-se território, redes, identidade, lugar e outros termos advindos da Geografia. Membros: Rafael Cardoso Teixeira, Natanael Júnior Silva Duarte, Roger Ricardo Pinto, Emmanuel K. Barroso, Vinicio Coelho Lima e Marcos Octávio Leite da Silva.
INTRODUÇÃO
Os
curdos constituem um grupo étnico que habita uma região conhecida como
Curdistão. Essa região ocupa uma área de aproximadamente 500 mil km² que
engloba a Turquia, o Irã, o Iraque, a Síria, o Azerbaijão e a Armênia sendo
habitada por aproximadamente 25 milhões de indivíduos sem pátria segundo a
Agência de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), sendo a maior etnia sem
território existente.
O povo Curdo é constituído por um agrupamento
de famílias que vivem em forma de tribos, sua atividade econômica é baseada no
pastoreio e fabricação artesanal de tapetes. Em nosso trabalho abordaremos a
questão dos Curdos e como os conceitos de Território e Redes vem se aplicando
no cotidiano desse povo ao longo da história. Batalhas, genocídios, grupos terroristas
e uma luta constante pela independência são parte da história desta etnia.
No
inicio do século XX, a partir da desintegração do Império Turco- Otomano,
tem-se a esperança por parte dos curdos da criação de um país, porém isso não
acontece e os curdos ficam divididos em diversos países sofrendo repressões por
parte desses governos. Essas repressões consistem em atitudes, onde a cultura
desses povos é bastante reprimida pelos governos desencadeando um processo de
desterritorialização desses povos. A exemplo desse fato observa-se a questão da
escrita e da língua curda que é ou já foi proibida em países onde se localizam
esses povos.
A questão do Território
A
Questão Curda nos serve de base para exemplificar as análises geográficas
envolvendo os conceitos de território e redes. No caso do território a
geografia visa compreender a relação do indivíduo com o meio a partir de várias
perspectivas. O território geográfico consiste no espaço no qual o indivíduo de
maneira geral, compreendendo suas várias formas de agrupamento e até mesmo
sobre a ótica pessoal de singularidade, interage com uma certa porção do espaço
de uma forma semelhante, através de fatores que compõem o estilo de vida de
dada civilização.
A
título de problematizar as questões envolvendo território no tema já mencionado
utilizaremos os conceitos de território político e território simbólico.
Politicamente o panorama que encontramos é a de uma etnia encravada num
território que se divide em seis países (FIGURA 1), onde dentro de cada um
deles a nação curda não encontra reconhecimento, sendo muitas vezes privado dos
direitos civis e políticos através da proibição do uso de sua língua nas
escolas, impedimento de retirada de documentos e conseqüentemente não possuem o
direito de voto em alguns desses países, ficando tanto à margem do sistema
quanto sofrendo um processo de desterritorialização através da repressão à sua
cultura. No entanto, sobre o olhar de cada país, o que se vê é um estado
nacional onde seu domínio compreende mais de uma etnia distribuídas dentro de
uma mesma fronteira física, de forma que dentro das preocupações dos governos
locais não se observa o interesse em garantir os direitos mais básicos da
minoria curda.
Segundo
o pensamento do geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves, Professor Dr. da
Universidade Federal Fluminense, é importante refletirmos sobre a veracidade
sobre o termo ”Estado Nação”, já que como se pode perceber no caso da Turquia é
um estado que abriga mais de uma nação, onde muitas vezes essa relação é
conflituosa e até violenta. O território político, entendido como uma porção de
terra demarcada por fronteiras, onde existe um poder político, representado por
um estado que o controla de forma soberana, através de seus instrumentos jurídicos,
sobre uma população com sensação de unidade, o que não ocorre no caso dos curdos
com os países onde estão fixados.
A
região montanhosa do Curdistão tem uma importância fundamental para a
manutenção desse grupo. Ali os curdos desenvolveram seu modo de vida em função
do ambiente específico como tipo do solo, ciclo hidrológico, temperatura, entre
outros. De forma que com o passar dos séculos a relação entre o povo e o
território está além da obtenção de recursos para sua subsistência, se
transformando numa relação de identidade com o ambiente, no que entendemos como
território simbólico.
FIGURA
1
A questão das Redes
Mesmo o Curdistão não sendo um
país independente e tendo estruturas físicas e tributárias ainda rudimentares,
empresas de prospecção e extração de petróleo, muito conscientes da importância
da região, ainda pouco explorada, consideram-na como uma área produtora de
petróleo de primeiro nível.
Com
relação ás redes, podemos abordar a questão dos interesses das redes
petroleiras que se estabeleceram na região. Não é interessante para os países
onde o Curdistão esta inserido que se constitua um estado curdo, porque tal
evento irá trazer prejuízos para esses Estados, que hoje usufruem da riqueza
que esta sob o solo curdo. Se o Curdistão realmente constituir um país os
lucros advindos de impostos resultantes do petróleo ficara apenas no território
curdo, fato que de maneira nenhuma agrada a países como Turquia, Iraque e Irã,
que retiram boa parte de seu petróleo da região que é reivindicada pelos
curdos.
Nesse
contexto fica evidente que as redes produzem duas vertentes, tanto de inclusão
como exclusão, essa questão fica explicita no caso dos povos Curdos, pois
apesar do Curdistão se localizar em uma área rica em petróleo a população local
não usufrui dos lucros dessa exploração, pois o capital tende a se concentrar
nas áreas onde se configuram os “nós” das redes, que são pólos de conexões onde
se concentra o poder.
- Rodriguez.R; Curdistão: um problema de
ontem e hoje.
- Abdullah Ocalan; Guerra e paz: perspectivas
para uma solução política da questão curda [2008].
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