Autor: Paolo Tarolli e Giulia Sofia
De acordo com os autores, os estudos
voltados aos entendimentos das pressões antrópicas sobre a geomorfologia e seus
processos, pensando o homem como um agente geológico e geomorfológico, ainda
está em seus primeiros estágios de conhecimento.
O objetivo do artigo é constatar e
destacar quais são as assinaturas e os impactos derivados de três principais
ações antrópicas com grande capacidade de alteração na superfície terrestre,
que são: atividades de mineração, redes de estradas e práticas agrícolas.
Assim, os autores trabalham com a inserção de certas tecnologias (imagens de
alta resolução topográfica e sensoriamento remoto) que possibilitam a
identificação de topografias antropogênicas e a sua quantificação em torno das
paisagens.
O desenvolvimento da sociedade humana, e
consequentemente a evolução de seu papel como agente geológico, durante o
Holoceno (a partir da caça e coleta, agricultura e metrópoles complexas) e o
aumento da população humana relaciona-se com o aumento progressivo da
agricultura intensiva (práticas agrícolas), da demanda de matéria-prima (mineração)
e urbanização (redes de estradas para conexão local-global) que refletem uma
bioturbação antrópica (antroturbação). Ao contrário dos processos
geomorfológicos naturais, segundo os autores, o trabalho antrópico é focado em
locais bem definidos, ou seja, pontuais na superfície terrestre. Como consequência, nas paisagens as
alterações humanas são refletidas por características superficiais, que podem
afetar os processos naturais ao nível de grande extensão no somatório das áreas
pontuais, em comparação a grandes ecossistemas. Essas modificações vêm
proporcionando um debate sobre a determinação de uma nova época ou era
geológica: o Antropoceno.
Entretanto, estudos de geomorfologistas
há muito vem investigando as consequências da atividade humana, sem tomar como
necessidade de criar um novo intervalo de tempo geológico. Com relação a esse
novo tempo, em comparação a escala e magnitude entre as atividades humanas
recentes e as forças geológicas milenares, a ações humanas tem o potencial para
amplificar os processos geomorfológicos, o que é novidade na história geológica
da Terra.
Quanto às ações de mineração, têm-se
quatro questões principais: I) erosão; II) indução de efeitos tais como
subsidência; III) deslizamento de terras, fluxo de detritos, riscos de
avalanches; e IV) efeitos no escoamento superficial. Os autores destacam que as
taxas de erosão locais, em ambientes de mineração, são elevadas. Sendo
comparados aos ambientes com topografias íngremes tectonicamente ativas.
Com relação às estradas, estas interagem
com a água e sedimentos de várias maneiras, influenciando na variabilidade dos
processos hidrológicos quanto ao escoamento superficial, produção de sedimentos
e erosão. Os autores destacam que existem diferenças nas consequências entre
estradas de relevo montanhoso e plano. Para o relevo montanhoso, as estradas
podem agir na diminuição da infiltração, interceptar fluxos subsuperficiais e
redirecioná-los para valas e encostas anteriormente canalizadas, aumentando o
potencial de erosão. Estradas em paisagens planas podem agir como uma barreira
antropogênica para fluxo de água e de sedimentos, diminuindo também a
infiltração.
Quanto à agricultura, em escala local,
práticas de cultivo podem influenciar o escoamento superficial, a erosão e
induzir a degradação estrutural do solo. Dessa forma, os autores salientam que
as taxas de erosão, a partir da agricultura, estão entre as maiores taxas
encontradas entre os variados usos do solo. Essa erosão também tem efeitos
indiretos no dissecamento de rios, esgotamento de águas subterrâneas
(modificações na recarga dos lençóis subterrâneos), poluição das águas,
sedimentação, salinização e intrusão de água salgada.
Com as novas tecnologias em uso cada vez
mais facilitado (sensoriamento remoto e imagens de alta resolução topográfica –
HRT), novas fronteiras para as análises da superfície da Terra são possíveis,
incluindo a análise dos processos antropogênicos. Essas tecnologias também
possibilitam a melhoria do planejamento e da gestão do uso da terra, sendo
necessário o aumento das áreas produtivas e a conservação físico-química das já
existentes. Pois, estima-se que o número populacional chegue a 11 bilhões de
pessoas no ano de 2100, aumentando a demanda de novas tecnologias e de matéria
prima, e consequentemente do uso do solo. Contraditoriamente à necessidade de
manutenção do solo e de suas qualidades físico-químicas, na Europa, ocorre a
tendência de abandono de terras para os próximos 20-30 anos. Assim, com o
aumento da força antropogênica e suas consequências, os autores destacam que um
desafio futuro é a mudança de perspectiva de planejamento e gestão do solo,
buscando o controle das ações antrópicas.
Mais que a modificação da cobertura
vegetal, as atividades humanas estão deixando uma significativa assinatura sobre
a Terra, alterando sua morfologia, os processos e os ecossistemas. Olhando para
as diferentes magnitudes e escalas em relação às forças abióticas (geológicas,
por exemplo), os seres humanos são capazes de mover grandes quantidades de
materiais durante as várias atividades de modificação, desempenhando o papel de
agente geológico. Onde, presume-se que no final do século, a geomorfologia
antropogênica cobrirá grande parte da superfície terrestre.
Referência
Bibliográfica
TAROLLI,
P; SOFIA, G. Human topographic signatures and derived geomorphic processes
across landscapes. Elsevier. V. 255, 15 February, 2016.
Pages 140–161. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169555X15302282?np=y.
Acessado em 3 de Março de 2016.
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