É necessário se entender o conceito de
campesinato por completo e analisar o processo histórico específico de cada
lugar para se entender o contexto histórico em que se inserem. O campesinato
vai muito além daquele grupo social que possui seus meios de produção, mas não
consegue se inserir por completo na concorrência de mercado.
Para muitos autores o campesinato é um
grupo social que se baseia na agricultura familiar. Terra, trabalho e família
são como valores morais. Dessa forma possuem uma ética muito rígida e uma
hierarquia muito forte (WOORTMANN, 1990; TAUSSIG, 1980). Apesar dessa intensa ligação com a
terra, no Brasil, esse grupo sempre mostrou uma grande mobilidade espacial,
devido à má distribuição das terras desde a colonização.
Muitos estudiosos costumam considerar
proletariado e o campesinato como uma classe social só. Segundo Eliane Paulino (2008) isso se deve ao
fato de que no começo do século XX algumas teorias socialistas pós Marx, como a
de Lênin, preverem o fim dessa classe. Lênin anteviu o processo de mecanização
do campo, e por esse fato indagou dois caminhos a serem seguidos pelo
campesinato: a parte mais rica iria se aburguesar, e a outra parte se
proletarizar.
Se nos apropriarmos do conceito de classe
social como um determinado grupo que compartilha de uma mesma realidade social
e possui interesses em comum, a partir disso já entendemos o campesinato como
uma classe social por si só. Mas há também outras diferenças. O trabalho do
proletário é totalmente subordinado ao capitalista e individual, mesmo que esse
pertença a uma família ou qualquer outro grupo social, ao passo que o trabalho
do camponês é de certa forma independente, pois possui seus meios de produção e
consome o que produz, apesar de estar um pouco dependente do mercado, e é um
trabalho familiar (PAULINO, 2008).
No Brasil, o campesinato sempre se mostrou
como uma classe muito fraca, apesar de que nos momentos de crise econômica são
eles que menos sentem as consequências. Isso deve ao fato do Agronegócio
brasileiro ser muito forte e contar com apoio de diversos agentes do poder
público e privado.
O setor agrícola brasileiro se baseia no
conceito de agricultura sustentável, que vale a pena ser contestado. Para o
agronegócio esse conceito permeia por um crescimento econômico a partir da
máxima exploração das potencialidades naturais. Mas os recursos naturais não
são infinitos, o homem (ainda) não conseguiu vencer por completo o limite que a
natureza nos impõe. E se isso é agricultura sustentável, o que seria então a agricultura
familiar?
Não é só por meio dessa “farsa” que o
agronegócio se sustenta. Há vários fatores que contribuem para que ele se
mantenha. A questão do fundo público é talvez a mais importante. Os grandes
empresários agricultores contam com um crédito rural baixíssimo, e em alguns
casos a dívida chega até a ser perdoada. Além disso, a agricultura empresarial
chega a ser isenta de impostos em alguns casos, o que não acontece o camponês
(PAULINO, 2008).
Referencias Bibliográficas:
PAULINO, Eliane Tomiasi;
FABRINI, João Edmilson (organizadores). Campesinato e Territórios em Disputa.
São Paulo, Expressão Popular, 2008.
WOORTMANN, Klaas. Com parente não
se neguceia: o campesinato como ordem moral, in Anuário Antropológico/87, pp.
11-73. Brasília/Rio de Janeiro, Edunb/Tempo Brasileiro, 1990.
TAUSSIG, Michael T. The Devil and
commodity fetishism in South America. Chapel Hill, The University of North
Carolina Press, 1980.
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