sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Campesinato e Burguesia Agrícola em Disputa

 É necessário se entender o conceito de campesinato por completo e analisar o processo histórico específico de cada lugar para se entender o contexto histórico em que se inserem. O campesinato vai muito além daquele grupo social que possui seus meios de produção, mas não consegue se inserir por completo na concorrência de mercado.
    Para muitos autores o campesinato é um grupo social que se baseia na agricultura familiar. Terra, trabalho e família são como valores morais. Dessa forma possuem uma ética muito rígida e uma hierarquia muito forte (WOORTMANN, 1990; TAUSSIG,  1980). Apesar dessa intensa ligação com a terra, no Brasil, esse grupo sempre mostrou uma grande mobilidade espacial, devido à má distribuição das terras desde a colonização.
    Muitos estudiosos costumam considerar proletariado e o campesinato como uma classe social só.  Segundo Eliane Paulino (2008) isso se deve ao fato de que no começo do século XX algumas teorias socialistas pós Marx, como a de Lênin, preverem o fim dessa classe. Lênin anteviu o processo de mecanização do campo, e por esse fato indagou dois caminhos a serem seguidos pelo campesinato: a parte mais rica iria se aburguesar, e a outra parte se proletarizar.
    Se nos apropriarmos do conceito de classe social como um determinado grupo que compartilha de uma mesma realidade social e possui interesses em comum, a partir disso já entendemos o campesinato como uma classe social por si só. Mas há também outras diferenças. O trabalho do proletário é totalmente subordinado ao capitalista e individual, mesmo que esse pertença a uma família ou qualquer outro grupo social, ao passo que o trabalho do camponês é de certa forma independente, pois possui seus meios de produção e consome o que produz, apesar de estar um pouco dependente do mercado, e é um trabalho familiar (PAULINO, 2008).
    No Brasil, o campesinato sempre se mostrou como uma classe muito fraca, apesar de que nos momentos de crise econômica são eles que menos sentem as consequências. Isso deve ao fato do Agronegócio brasileiro ser muito forte e contar com apoio de diversos agentes do poder público e privado.
    O setor agrícola brasileiro se baseia no conceito de agricultura sustentável, que vale a pena ser contestado. Para o agronegócio esse conceito permeia por um crescimento econômico a partir da máxima exploração das potencialidades naturais. Mas os recursos naturais não são infinitos, o homem (ainda) não conseguiu vencer por completo o limite que a natureza nos impõe. E se isso é agricultura sustentável, o que seria então a agricultura familiar?
    Não é só por meio dessa “farsa” que o agronegócio se sustenta. Há vários fatores que contribuem para que ele se mantenha. A questão do fundo público é talvez a mais importante. Os grandes empresários agricultores contam com um crédito rural baixíssimo, e em alguns casos a dívida chega até a ser perdoada. Além disso, a agricultura empresarial chega a ser isenta de impostos em alguns casos, o que não acontece o camponês (PAULINO, 2008).
Referencias Bibliográficas:
PAULINO, Eliane Tomiasi; FABRINI, João Edmilson (organizadores). Campesinato e Territórios em Disputa. São Paulo, Expressão Popular, 2008.
WOORTMANN, Klaas. Com parente não se neguceia: o campesinato como ordem moral, in Anuário Antropológico/87, pp. 11-73. Brasília/Rio de Janeiro, Edunb/Tempo Brasileiro, 1990.
 TAUSSIG, Michael T. The Devil and commodity fetishism in South America. Chapel Hill, The University of North Carolina Press, 1980.

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