*Último trabalho feito pela disciplina Geografia Política, no meu 4º período da graduação juntamente com meu amigo de curso Natanael Júnior Duarte Silva, em novembro de 2011.
A
bibliografia abordada durante o curso, sem dúvidas é de grande importância para
que possamos compreender o que é a nossa contemporaneidade, ou seja, como nosso
mundo se estrutura e como as modificações no âmbito econômico geram ideologias
que causam grandes interferências em nossas vidas, mostrando que como as novas
medidas impostas pelo mundo globalizado vem tornando as pessoas cada vez mais
árduas e competitivas. Nossa intenção no presente trabalho é estabelecer uma discussão
sobre as inter-relações dessas transformações.
O Estado, hoje Estado-Nacional foi
uma construção histórico-social trabalhada e retrabalhada a partir da Revolução
Francesa, onde que se iniciou o princípio de Estado-Nação ao qual conhecemos
atualmente. Temos que ressaltar aqui que há uma imensa influência do
capitalismo para a formação de um Estado Nacional, pois este se configurou
junto com o desenvolvimento de um Mercado Nacional.
A nação, a partir da fundação do
Estado-Nacional, foi fundamentada em valores simbólicos que convergiam populações
para uma concepção de que pertenciam a um grupo ou nação, e é esse sentimento
de pertencimento a algo maior, dessa maneira, é que propicia que esse estado
seja gerido de acordo com os interesses dos governantes.
Mas como esse grupo ou nação se
formou?... Como já foi dito, o grupo ou nação se sente pertencendo a uma
comunidade maior, que compartilham várias peculiaridades em comum, e esse algo
maior é o Estado-Nacional ao qual se pertence e que passa a ter poder sobre a
construção do pensamento, quando passa a intervir em setores que influenciam a
população de forma que essa seja mudada de forma progressiva e gradativa por
auxílio da língua (que se torna a língua nacional), da história nacional, que
passa a ser formada por uso de símbolos, personagens, mitos que proporcionam o
sentimento de honra e orgulho de pertencer a pátria (muitas vezes esses
símbolos existiram, mas não da mesma forma a qual é transmitida pelo estado), e
esses símbolos passam a integrar toda a população em um sentimento de irmandade
(todos pertencem a uma sociedade, mas não há necessidade da existência de
contato direto entre estes indivíduos para que eles saibam que ambos fazem
parte dessa mesma estrutura). Então, se o princípio de nacionalidade se iniciou
a partir da revolução Francesa, qual a diferença entre o nacionalismo do século
XIX e o nacionalismo do século XX?(Sim, existe dois nacionalismos diferentes).
Para se formar um Estado-Nacional é
necessário uma base fixa (um espaço), o território, para que as representações
culturais dos povos sejam alicerçadas sobre o solo. Dessa forma, houve dentro
do território que agora é nacional, uma busca pelo nacionalismo, fazendo com
que o Estado utilizasse todo seu poder de influenciar e comandar para
“contaminar” (sem se pensar se a contaminação seria boa ou ruim, o propósito
usado é de expandir) as populações que estavam dentro de suas fronteiras a se
sentirem pertencentes à nação que passa a ser construída e reconstruída (em
alguns momentos de crise) por manobras políticas para a definitiva junção de
povos (culturas) em prol da nação, então a principal característica do
nacionalismo do século XIX é a junção, envolvimento desses povos em volta do
Estado-Nacional, com bases na comunidade (que é imaginada) e se constitui como
integrada a expressão da cultura de um “único povo”, uma única nação, através
da etnia, sendo formada por: língua, religião, costumes, tradições, sentimento
de lugar e etc.
As questões e conflitos envolvendo o
nacionalismo no final do século XX começaram a aparecer a partir,
principalmente, da recessão de 1973, pois é a partir de uma crise como foi essa
que se passa a buscar um ponto de conforto,
nesse caso, o conforto é o passado, que contêm a base a se aliar. É nos
momentos de crise que as diferenças, sempre existentes, passam a ser
enxergadas, então é o momento de maior tensão, pois é o valor das diferenças
que faz com que haja a imensidão de conflitos entre aqueles que se colocam em
situações diversas, como exemplo foi o genocídio de judeus na Alemanha durante
a 2ª Guerra Mundial, o Xenofobismo atual na Europa. Conflitos esses que são
realizados por certos grupos contra outros grupos distintos que passam a se
odiarem por motivos dos mais banais aos mais complexos. Nesse momento de crise
é que o local ou povo local (em todo seu contexto) tende a se fortalecer
através dos princípios de sua identidade vinculada a comunidade a qual
pertence.
No período a partir da década de
1970 devido à capacidade dos fluxos, o local e o global passam a se contradizer
cada vez mais, pois a idéia seria que o primeiro começaria a perder espaço, em
todos os sentidos culturais e econômicos para a “moda homogênea” da proposta e
costumes do global, ou melhor, dos americanos e europeus, mas o que vem
ocorrendo alem dessa disseminação de alguns traços homogêneos de “culturas
dominantes” é o fortalecimento de culturas locais, que se configura numa forma
de se blindar mesmo que minimamente do avanço dos ideais capitalistas que nos
são impostos diariamente, pois até a década de 1970 a identidade era ligada
diretamente ao nacionalismo, pós 1970 essa se fragmentou propiciando a criação
de varias territorialidades dentro de um estado.
A reestruturação do capitalismo, que
agora tem como base o setor financeiro e se organiza em redes, possibilita
conexões entre lugares distintos no espaço, gerando a fragmentação da produção.
Nesse modelo, os empreendimentos agem escolhendo onde se investe e em
contrapartida as demais áreas onde ficará as margens do processo de acumulação
capitalista. Essas redes são também as de telecomunicação, o que gera a simultaneidade
de informações, o que passou a mostrar, em tempo real, a realidade vigente no
mundo em todas as suas diferenças. Essa amostra de diferenças, mais as crises
ocorridas se tornaram um argumento bastante concreto para uso de grupos
políticos sociais que se valem dessas diferenças e da crise para se
fortalecerem perante a sociedade para se mostrarem que são a favor da inserção
ao modelo político-econômico atual ou a fazerem apologia contra as influências
geradas pelo processo de globalização em seus territórios.
Com toda essa conturbação política
ocorrida no modernismo e mais ainda no pós-modernismo, o sentimento de grupos
políticos, ou mesmo nações, que pertencem a um Estado-Nacional, querem se
tornar independentes desse Estado-Nacional ou Estado-Nações como já é colocado
por muitos autores na atualidade sobre o debate político (muitas vezes sem uma
base, sem um território, para que isso ocorra).
Esta é a característica principal do
nacionalismo do final do século XX, o movimento nacionalista por separação (em
contraposição ao anterior que era por junção), onde, alguns Estados não
conseguiram atender as necessidades de “nações” que se encontravam no interior
de seu território, essas nações se colocaram contra o Estado e tenderam a se
separar por vários motivos (econômicos, sócias, religiosos etc) sucumbindo o
que antes era dito como uma grande nação, pelo motivo de não conseguirem se
adequar as diferenças existentes dentro de seu território.
Temos também como expressões de
poderosas identidades coletivas principalmente a partir do ultimo quarto de
século, aquelas que se colocam não somente contra as transformações impostas
pelo capitalismo, mas também na busca por melhorias no âmbito social e
democrático. São novas identidades que podem ser de caráter ativo que abordam as relações humanas, se consistem em um
movimento muito democrático, são voltados às novas questões que o mundo moderno
trás e em sua maioria rompem as fronteiras nacionais, constituindo-se em
movimentos universais e buscam melhorias no âmbito mundial como, por exemplo, o
feminismo. Porém, essas novas identidades também podem ser de caráter reativo que se consiste em um
projeto de blindar certo grupo das influencias do capitalismo em defesa de
certa identidade (religiosa, étnica, familiar, etc.) perante um mundo em
constante mudança.
Os “valores nacionais” foram ate
certo ponto, absolutos, porém, hoje esses valores vêm perdendo força, pois o
que prevalece são os interesses do capital e nem sempre os interesses desses
são os mesmos do Estado Nacional. Hoje o capitalismo se despregou do Estado
Nacional, estando mais ligado ao caráter de capitalismo financeiro, temos então
um mundo dividido entre os interesses do capital financeiro e dos Estados
Nacionais. O avanço da globalização nos passa a idéia errônea de que esta tende
a homogeneizar os povos, mas na realidade a tendência de um mundo global é cada
vez mais a produção e heterogeneidade e é exatamente a partir do momento em que
essa heterogeneidade produzida pelo mundo moderno passa a não ser “absorvida”
pelo estado é que se configuram as crises, pois o estado tem o papel de
garantir o bem estar social de todos que o compõe, a partir do momento que ele
não consegue desempenhar esse papel passa a gerar insatisfação interna,
colocando em cheque a “estabilidade da democracia política”, botando a prova a
dita “democracia” que foi tão pregada pelos países centrais.
Temos como exemplo de fato descrito
no parágrafo acima o caso dos africanos na Europa, que tornaram presentes
nesses países centrais um hibridismo tradicional muito grande, o que tende a
gerar tensões, pois na Europa há uma resistência maior sobre as influencias
estrangeiras, pois esses estados já estão consolidados há muito tempo. Em
tempos de economia aquecida o contingente de imigrantes é incorporado pelo
estado, porém, em tempos de crise vem à tona um forte discurso de direita
exaltando o nacionalismo e levantando também a questão das raízes para se
defender do que é diferente. Esse fato vem causando tensões entre pessoas nativas
e os estrangeiros. Esse cenário também se enquadra perfeitamente na ideologia
difundida pelo Nazismo que “satanizou” os Judeus perante os Alemães.
Como já foi dito, a bibliografia nos
ajuda na busca pelo entendimento daquilo que se consiste em nossa contemporaneidade,
para entendê-la devemos questionar e não apenas apontar as diferenças. Se
estivermos sempre na defensiva, defendendo nossa cultura, nosso território,
nosso modo de vida, nossa religião o tempo todo não conseguiremos entender o
outro, para que isso ocorra, devemos questionar aquilo que achamos ser a
verdade, pois essas em sua maioria são construídas e impostas a nós com alguma
finalidade. Para realizarmos uma boa analise temos que desconstruir nossas
verdades.
Referências:
-ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. São Paulo. Cia das Letras, 2009.
-CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. São paulo. Paz e Terra, 2001.
-HAESBAERT, Rogério. O Mito da Desterritorialização: Do "Fim dos Territórios" à Multiterritorialidade". Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004.
-HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro, DP&A Editora, 2004.
-HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo. Loyola, 1992.
-HOBSBAWM, Eric. Nações e Nacionalismos desde 1780. São paulo. Paz e Terra, 1991.
- SOUZA, Marcelo L. O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. pp 77-117. In: CASTRO, Iná E. de et al. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. pp 77-116.
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