sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Ratzel: importância para a ciência geográfica

Para Antônio C. R. Moraes, Ratzel acredita numa geografia entendida como uma ciência de síntese, que trabalha com diversos fenômenos tentando apreender suas relações. É uma ciência que “de contato entre fenômenos naturais e sociais”. Isso significa uma ciência que estuda os fenômenos sociais e naturais e as influências dos últimos na constituição dos primeiros.
Com base nas discussões de Antônio C. R. Moraes a concepção de geografia de Ratzel envolve a relação entre sociedade e as condições ambientais. Segundo Moraes, Ratzel entendia a geografia seria ao mesmo tempo uma ciência humana e da Terra, uma vez que, a história humana integra-se com a história do planeta. Sua concepção de geografia se dá, portanto, na relação da história do homem sobre o meio.
Outro ponto de discussão na sua obra é o Estado, as relações internacionais, das fronteiras ou da guerra, segundo Moraes. Para Ratzel a geografia deveria tematizar as relações que impulsionam ou freiam o movimento dos povos, as trocas entre o homem e o meio natural onde se localizavam. Assim, o contato entre fenômenos naturais e sociais.
A indagação dos geógrafos seria quais influências da natureza, ou das condições naturais, sobre as sociedades. Segundo Moraes, Raztel dividiu a geografia em três campos de pesquisa: a geografia física, a biogeografia e a antropogeografia. Mas Ratzel dedicou-se mais à geografia do homem, segundo Moraes.
O estudo da antropogeografia teria como objeto principal a ação dos elementos naturais sobre a evolução da sociedade (sua hístória), a difusão desses povos sobre o meio natural e o estudo da formação de seus territórios. Segundo Moraes, Ratzel foi acusado de ser determinista devido a suas colocações sobre a influência natural sobre as sociedades.
Mas na concepção de Ratzel essa influência não seria o determinante da história de uma dada sociedade. Para Ratzel o meio natural fornece elementos aos quais a sociedade tem que se adequar e através do conhecimento sobre os elementos e das tecnologias desenvolvidas a sociedade tende a superar as condições impostas pelo meio, e até mesmo aproveitar os recursos. Ratzel nos chama atenção para isso. Ele diz que em um determinado território, o recurso não e visto de forma potencial se não houver um conhecimento de como desfrutá-lo.
As principais fontes teóricas do pensamento ratzeliano segundo Moraes são: no nível do objeto, a filosofia da história de Herder e a geografia comparada de Ritter. No nível do método, a filosofia positivista de Comte e a ecologia de Haeckel. Segundo Moraes, Ratzel introduziu o positivismo na ciência geográfica. A concepção de método de Ratzel seria marcada pelo positivismo.
Ratzel buscou na obra de Comte alguns conceitos e concepções que permite tal classificação, como por exemplo, a visão da sociedade como um organismo, o método científico, o conceito de “força da densidade” e “meio intelectual”. Essa filiação ao positivismo teria tido como conseqüência o estudo dos fenômenos humanos através do uso de métodos próprios das ciências naturais.
A antropogeografia foi encarada como uma ciência empírica pautada na observação e na indução. A indução deveria comandar a pesquisa, que seria composta por uma descrição minuciosa dos quadros espaciais e a descrição dos elementos diferenciados, entre os quais os fenômenos humanos. Segundo Moraes no cerne da proposta de Ratzel está a visão de causalidade o que teria empobrecido seu trabalho. A sociedade passa a ser vista como um ser passivo que depende das condições do meio externo. Sua intenção passa a ser a definição de leis que expliquem a influência das condições naturais sobre a evolução dos povos, algo bem característico do método das ciências naturais.
A Terra é posta como um substrato indispensável da vida humana, sua condição universal de existência. O espaço, segundo ele, encera a s condições de trabalho, que aumentam progressivamente com o seu desenvolvimento. A relação com o meio seria uma constante nos acontecimentos que interessam à história do homem, esse ser terrestre. A questão do espaço ocupa um lugar central na história. Por isso ele constrói dois conceitos fundamentais em sua obra: o de território e de espaço vital.
O território seria definido como o espaço que alguém possui. O que qualifica o território em sua concepção é a posse por uma sociedade. O espaço vital seria o espaço necessário para que uma dada sociedade sobreviva utilizando os recursos disponíveis explorados com sua tecnologia.
A partir do texto de Moraes podemos concluir que a importância de Ratzel se deve, sobretudo, pelo fato do autor destacar a importância da influência do meio natural no desenvolvimento das sociedades. A relação entre os fenômenos naturais e os fenômenos sociais parece sua maior contribuição.

URBANIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ERA DOS FLUXOS

A abordagem em torno da configuração espacial na era dos fluxos realizada por Limonad (1999) tem como base a análise da “fragmentação e dispersão espacial dos processos produtivos em escala global, que resultaram na reorganização da reprodução dos meios de produção e da força de trabalho”.
            Tendo como contexto histórico a emergência do Neoliberalismo e elementos componentes da Terceira Revolução Industrial, que implicaram em três transformações significativas: nos meios de comunicação; na organização das formas de produção; e em bioengenharia; que trouxeram significativas mudanças na composição de novos arranjos sócio-espaciais.
            A confluência das escalas do global e local, como condicionantes da era da informação e dos fluxos, é evidenciada por esses movimentos dinâmicos que se estabelecem no território.
            Assim, pensar o território, como espaço apropriado, categoricamente, é perceber que sua gestão não ocorre de modo a estabelecer uma mesma apreensão por todos os agentes que nele se estabelece. Sendo as novas condições tecnológicas, que permitem a fluidez e a compressão do espaço pelo tempo, através da velocidade dos meios dispendidos, concentradas e direcionadas a setores de dinamização do capital.
            Nesse contexto, a autora coloca o urbano como lócus da reprodução do capital e da força de trabalho. Essas duas forças que, historicamente se convergiam espacialmente, pelos processos flexibilização e mobilidade do capital, dispendem-se dessa condição anterior. O que é facilmente verificado nos processos de mecanização agrícola; na automatização de serviços; nos processos de terceirização das empresas, entre outros. “Pode-se dizer que as novas transformações em curso representam novas estratégias para a acumulação e criam novas condições para a mobilidade do capital e novos obstáculos à mobilidade espacial da força de trabalho”. (LIMONAD, 1999).
      A materialização espacial da distribuição da população e das atividades produtivas são engendradas por diferentes agentes que atuam na estruturação territorial. Esses agentes seriam compostos, principalmente, pelo Estado, o Setor Imobiliário e o capital Agroindustrial.
O Estado tem papel preponderante na organização do espaço e nos padrões de assentamento das diversas frações do trabalho (infraestrutura eficaz que facilite a maior produção de capital pelo capitalista), bem como do capital. O Setor Imobiliário, composto por várias classes concorrentes entre si, inclusive o Estado, é o grande gerador da especulação imobiliária e sobrevalorização da terra. E, por último, os complexos agroindustriais, que se estabelecem em estruturas de grande concentração fundiária no campo, associados a indutores de potenciais áreas de desenvolvimento. Visto que a perspectiva de usos potenciais propicia a valorização do solo em áreas urbanas e rurais, o que gera à expulsão dos trabalhadores urbanos das cidades e dos trabalhadores rurais das áreas agrícolas
A lógica de cada um desses setores tende a gerar novos padrões de liberação da força de trabalho, sobretudo no escopo das transformações estruturais já supracitadas.
Para Castells e Hall (1994) chama a atenção com a seguinte afirmação: “durante o capitalismo competitivo o espaço urbano condensou e concentrou as esferas de reprodução, dadas as limitações do meio técnico - cientifico em termos de transporte e comunicações. Hoje, entretanto, pode-se observar a tendência à separação crescente entre as localizações espaciais dessas esferas de reprodução”. Isso basicamente devido à integração das transformações da Terceira Revolução Industrial, aonde se desvincula de um território concatenado e passa a fazer um fluxo (de informações, produção) entre várias partes do globo.
Referência Bibliográfica
CASTELLS, M. & HALL, P. (1994): Technopoles of the World. Londres: Routledge

LIMONAD, Ester. Reflexões sobre o espaço, o urbano e a urbanização. Geographia, Niterói, v. I, n. I, p. 71-91, 1999.

Campesinato e Burguesia Agrícola em Disputa

 É necessário se entender o conceito de campesinato por completo e analisar o processo histórico específico de cada lugar para se entender o contexto histórico em que se inserem. O campesinato vai muito além daquele grupo social que possui seus meios de produção, mas não consegue se inserir por completo na concorrência de mercado.
    Para muitos autores o campesinato é um grupo social que se baseia na agricultura familiar. Terra, trabalho e família são como valores morais. Dessa forma possuem uma ética muito rígida e uma hierarquia muito forte (WOORTMANN, 1990; TAUSSIG,  1980). Apesar dessa intensa ligação com a terra, no Brasil, esse grupo sempre mostrou uma grande mobilidade espacial, devido à má distribuição das terras desde a colonização.
    Muitos estudiosos costumam considerar proletariado e o campesinato como uma classe social só.  Segundo Eliane Paulino (2008) isso se deve ao fato de que no começo do século XX algumas teorias socialistas pós Marx, como a de Lênin, preverem o fim dessa classe. Lênin anteviu o processo de mecanização do campo, e por esse fato indagou dois caminhos a serem seguidos pelo campesinato: a parte mais rica iria se aburguesar, e a outra parte se proletarizar.
    Se nos apropriarmos do conceito de classe social como um determinado grupo que compartilha de uma mesma realidade social e possui interesses em comum, a partir disso já entendemos o campesinato como uma classe social por si só. Mas há também outras diferenças. O trabalho do proletário é totalmente subordinado ao capitalista e individual, mesmo que esse pertença a uma família ou qualquer outro grupo social, ao passo que o trabalho do camponês é de certa forma independente, pois possui seus meios de produção e consome o que produz, apesar de estar um pouco dependente do mercado, e é um trabalho familiar (PAULINO, 2008).
    No Brasil, o campesinato sempre se mostrou como uma classe muito fraca, apesar de que nos momentos de crise econômica são eles que menos sentem as consequências. Isso deve ao fato do Agronegócio brasileiro ser muito forte e contar com apoio de diversos agentes do poder público e privado.
    O setor agrícola brasileiro se baseia no conceito de agricultura sustentável, que vale a pena ser contestado. Para o agronegócio esse conceito permeia por um crescimento econômico a partir da máxima exploração das potencialidades naturais. Mas os recursos naturais não são infinitos, o homem (ainda) não conseguiu vencer por completo o limite que a natureza nos impõe. E se isso é agricultura sustentável, o que seria então a agricultura familiar?
    Não é só por meio dessa “farsa” que o agronegócio se sustenta. Há vários fatores que contribuem para que ele se mantenha. A questão do fundo público é talvez a mais importante. Os grandes empresários agricultores contam com um crédito rural baixíssimo, e em alguns casos a dívida chega até a ser perdoada. Além disso, a agricultura empresarial chega a ser isenta de impostos em alguns casos, o que não acontece o camponês (PAULINO, 2008).
Referencias Bibliográficas:
PAULINO, Eliane Tomiasi; FABRINI, João Edmilson (organizadores). Campesinato e Territórios em Disputa. São Paulo, Expressão Popular, 2008.
WOORTMANN, Klaas. Com parente não se neguceia: o campesinato como ordem moral, in Anuário Antropológico/87, pp. 11-73. Brasília/Rio de Janeiro, Edunb/Tempo Brasileiro, 1990.
 TAUSSIG, Michael T. The Devil and commodity fetishism in South America. Chapel Hill, The University of North Carolina Press, 1980.