quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Formação dos Elementos Químicos do Universo

 

Rafael Cardoso Teixeira

          Em um dado momento no espaço, a partir de um núcleo extremamente condensado, há cerca de aproximadamente 13,7 bilhões de anos antes do presente, houve o momento da “Grande Explosão”, quando foram criados o espaço (Figura 1) e o tempo, concomitantemente com a gigante liberação de energia em um  nível incrível, estimado em aproximadamente de 3 bilhões de graus centígrados.

Este momento primordial é denominado de “Big Bang” (termo universal), ao qual marca o surgimento do universo, e este continua a sua expansão e consequentemente a se esfriar, pois de maneira análoga a um balão de gás (Figura 1), conquanto as leis de conservação da física forçam a queda da temperatura conforme se aumenta o volume do recipiente (constante de pressão).

Figura 1: Segundo está imagem, o universo em expansão pode ser comparado a um balão sendo inflado. Onde deve ser observado na figura que as galáxias (brancas) se afastam uma das outras mantendo as suas dimensões. Fonte: http://astropt.org/blog/2012/10/15/perguntas-cosmologicas/.

A partir deste momento, com tempo de 0,01s de existência, com o espaço recém criado (Primevo), este se preencheu de radiação e de partículas fundamentais, denominadas de “quarks” (além de múons, táons, neutrinos e suas respectivas antipartículas) que se entrechocavam à todo momento em alta constância, produzindo e se aniquilando, devido à extrema temperatura (3 bilhões de graus centígrados), onde tudo era energia e luz.

Essa grande quantidade de energia vem se tornando cada vez menor à medida que o universo se expande, sendo concomitante à expansão do universo e o consequente esfriamento. Assim, é estimado que em cerca de 3 minutos após o momento primordial, a temperatura diminuiu para aproximadamente 1 bilhão de graus centígrados, temperatura a qual era baixa o suficiente para permitir a união dos quarks e a formação de partículas com maior organização, os prótons, elétrons e nêutrons, possibilitando a formação de partículas mais evoluídas, átomos e moléculas. Onde se dá início ao processo de nucleossíntese primordial.

Com o nascimento dos átomos e das moléculas, passa a ocorrer uma mudança de extrema importância, onde o universo começa a deixar de ser dominado exclusivamente por partículas energéticas, estritamente radiação. A partir da formação dessas partículas  a matéria começa a dominar a sequência de eventos. Uma das principais consequências, à priori, é o surgimento da gravidade, em nível de escala local, não de universo, provocando a condensação de matéria.

O que é importante destacar, de início, antes da sequência de formação dos elementos químicos descobertos nos diversos sistemas físicos do Universo, é que estes foram formados basicamente por três grandes tipos ou classes de processos, em sequência: nucleossíntese primordial, nucleossíntese estelar e nucleossíntese interestelar.

É relevante destacar também que o Universo é possivelmente composto de diversas espécies de elementos: matéria escura (70% - não se sabe o que é), matéria escura fria (25% - não se sabe o que é), Hidrogênio e Hélio gasosos (4%),  Hidrogênio e Hélio em estrelas (0,5%), neutrinos (0,3%) e elementos pesados (0,03%). Onde os elementos pesados (0,03%) são o que os astrônomos chamam de tudo que não é H e He, ou seja, toda a tabela periódica com a exceção destes dois elementos.

O primeiro elemento ou núcleo a se formar nesta sequência de condições (temperatura, pressão e disponibilidade de quarks e partículas) foi o Deutério[1] (Esquema 1), que é o isótopo do Hidrogênio (H), ao qual contém somente 1 próton e 1 nêutron. Com a consequente diminuição progressiva da temperatura, resultando na finalização dos mecanismos termonucleares, ocorre o que Hubert Reeves (astrofísico nuclear) denominou de “primeira crise de crescimento da complexidade”.

Essa primeira crise considerada perdura por volta de 1 milhão de anos, tendo situação satisfatória para o início do comando da energia eletromagnética, possibilitando portanto à formação do primeiro elemento químico: o Hidrogênio  (H). Já a formação do Hélio (He – Figura 2) se forma quando a temperatura caí para 1 bilhão de graus centígrados, contendo em si 4 nêutrons e 3 prótons.

Figura 2: A formação do Hélio durante a nucleossíntese primordial. Sendo o He-4 muito estável. Fonte: http://www.astro.iag.usp.br/~ronaldo/intrcosm/Glossario

Este estágio inicial (Nucleossíntese Primordial) da expansão e resfriamento do universo é de altíssima intensidade, sendo denominado de “Nucleossíntese Primordial”. Nesse estágio, é que dá razão à abundância de H e He no universo, como apontou primeiramente o cientista russo-norte-americano George Gamow (1904-1968), afirmando que o H e He correspondem, respectivamente, a 74% e 24% de toda a massa do Universo (Tabela 1).

Tabela 1: abundância relativa de elementos químicos no Universo, o Sol e a Terra, os % são aproximados. Fonte: Introdução: a distribuição dos elementos químicos. Fonte: MACIEL, W. J (2004).

Esta Tabela 1 demonstra que a quantidade e distribuição dos elementos químicos é complexa. Onde a massa do universo é constituída basicamente de H e He, e os demais 2% é o total de elementos mais pesados, ou seja, com Z > 2 (número atômico > 2). O que comparado à Terra é como “uma acaso da natureza”, pois a maior parte material do nosso planeta e dos seres vivos, incluindo nós seres humanos, é composto por parte dessa pequena porcentagem e elementos com Z > 2.

Em sequência (Esquema 1) se encontra, de forma simples, a formação ou fusão do H a partir de prótons, passando pelo deutério até se formar o He, chamado de ciclo próton-próton (ciclo p-p), de acordo com a vídeo-palestra de COSTA (2018):

Esquema 1: sequência de formação do Deutério (D) ao Hélio (He) – ciclo p-p.

- dois prótons colidem formando um Deutério (D) e emitem um pósitron, um raio gama e um neutrino.

- um Deutério colide com um próton formando um 3He e emitindo um raio gama.

- dois 3He colidem formando um 4He mais dois prótons disponíveis para o ciclo seguinte.

Para este processo é importante compreender a relação de energia, tendo a seguinte pergunta em mente: qual é o balanço energético desta reação? A resposta se encontra na sequência.

. H1: 1.007852       4 H1 = 4.031408

. He4: 4.002603

Observe que existe uma diferença de 0.028805 (ou 0,7% da massa), onde essa diferença representa o que se converteu em energia liberada pelo processo.

Nucleossíntese Primordial

Está fase se inicia em um momento extremamente rápido, em torno de 3 minutos após o momento inicial, o Big Bang. Nesta primeira fase se dá a formação desde o H até o Berílio (Be).   Quando a temperatura baixou para valor aproximado de 2.727 °C (3000 kelvin), a nucleossíntese primordial cessou devido a não existir mais calor em quantidade necessária para o prosseguimento das reações de formação de novos elementos químicos além, estagnando-se no H e He, estando o Universo em fase de desacoplamento da matéria e da radiação (Figura 3).

Figura 3 - Desacoplamento da matéria e radiação. Fonte: INPE. Disponível em: http://t1.gstatic.com/images.

Nessa fase da nucleossíntese primordial além da formação do D (2H), tem-se a formação do trítio (3H), e isótopos 3He, 4He e 7Li. Onde o processo de formação desde o D até o Lítio (Li) é esquematizado a seguir:

p + n  →    D + y

D + n      3H + y

D + p      3He + y

D + D      4He + y

D + D      3He + n

D + D      3H + p

3He + n      3H + p

3He + n      4He + y

3H + D      4He + y

3H + p      4He + y

3He + 3He      4He + 2p + y

3H + 4He      7Li + y

7Li + p      4He + α

3He + 4He      7Be + y

7Be + e-      7Li + y

Neste momento é clara a determinação da abundância dos elementos Deutério, He e Li, os quais são uma marca, um termômetro dessa primeira etapa dos processos de nucleossíntese, onde a queda da temperatura possibilitou a montagem dos núcleos citados acima a partir dos prótons e nêutrons livres.

O processo se faz pela relação das unidades existentes neste momento primordial, onde se estima que havia 1 nêutron para cada 7 prótons. Rapidamente havia a combinação de 1 nêutron e 1 próton, e depois a totalidade deles se combinaram para formar o He. Sobrando assim, 6 prótons sem emparelhamento.

O processo de formação desde o H até o Li se dá por reações de fusão nuclear, onde desde o Esquema 1, a sequência gerou elementos mais estáveis, o Li e o Be. Onde o 7Be é a combinação de 3He mais 4He, já o 7Li é a combinação do 7Be mais um elétron. Por causa do curto espaço de tempo em que a nucleossíntese primordial ocorreu, parando pela expansão do universo, nenhum elemento mais pesado do que o Be poderia ser formado. Talvez, o B. É destacado que as reações de fusão cessaram até o Li, causado por duas principais razões de acordo com Costa e Hovarth (2016): i) inexistência de núcleos estáveis entre 5 e 8 núcleos, e ii) expansão que diluiu a densidade e impediu que a fusão continuasse. Até este momento estimasse que havia se passado 20 minutos pós o momento inicial.

Lembrando da questão do início do fenômeno de gravidade, a partir da nucleossíntese primordial, tem-se a sequência de a matéria primordial acomodar-se em pequenas irregularidades (potencial gravitacional local). Essa matéria aglomerada passou a crescer, aumentando assim seu potencial gravitacional, onde a maior concentração de matéria aglomerada gerava como consequência a formação das grandes estruturas: estrelas e galáxias. Sendo que a partir deste momento é que as estrelas, sendo os “fornos nucleares”, que vão permitir a continuação da nucleossíntese até a formação completa da tabela periódica.

Nucleossíntese Estelar

A formação das massas estelares se inicia pela condensação de matéria a partir da gravidade local (que tende a aumentar à medida que os corpos aumentam de tamanho). Assim, as estrelas formadas e em formação são classificadas de acordo com a sua massa. A massa em comparação é relativa à do Sol (2 x 1030 kg), portanto as massas das estrelas são ordenadas pela massa solar (MSol) e são classificadas em:

i) estrela de baixa massa – entre 0,08 e 0,8 MSol;

ii) estrela de massa intermediária – 0,8 a 8 MSol;

ii) estrela massiva – maior que 8 MSol.

As estrelas que possuem massa menor que 0,08 MSol não possuem capacidade de realizar o processo de fusão nuclear do H, e portanto, não são capazes de contribuir para a formação dos demais elementos químicos que conhecemos e se encontram catalogados na tabela periódica.

As estrelas agem a partir de reações termonucleares, onde os H são fundidos em He e estes são fundidos em núcleos mais pesados, processo que contêm cada vez maior intensidade e valor de temperatura. Já para a formação do C, de extrema importância, ao qual é produzido pelo processo triplo-alfa em todas as estrelas, devido a sua formação ser proveniente de He, sendo o pontapé de todo o processo de nucleossíntese.

Outro ciclo de importância nas formações de elementos químicos nas estrelas é o chamado ciclo CNO (Carbono-Nitrogênio-Oxigênio). Em que nas estrelas mais massivas  o NCO é o processo dominante, sendo catalítico e utiliza os três elementos (CNO) como intermediários na formação de um núcleo de He. Veja a seguir o esquema:

12C + p      13N + γ

13N       13C + e+ + ve

13C + p      14N + γ

14N + p     14N + γ

15O     15N + e+ + ve

15N + p     12C + 4He

O processo acima é simples e inicia com um próton (p - 1H) que choca com um núcleo de C (12C) dando origem a um isótopo radioativo de N (13N). Tem-se como resultado a liberação de radiação-gama (γ). O núcleo de N libera pósitron mais neutrino, modificando-se para um isótopo de C (13C). Com o choque de mais um próton com este núcleo de C, dá-se a conversão para um isótopo estável de N (14N) mais a liberação de radiação-gama.

Ao ser atingido por mais um próton, o núcleo de N é então convertido em um isótopo de O (15O), liberando mais raios gama. O elemento O decai para o isótopo de N (15N) liberando neutrino mais pósitron. Finalmente, o choque de outro próton quebra o 15N em um núcleo de H (4He) e o átomo de C inicial (12C), possibilitando a continuidade do ciclo. Observe que toda energia é liberada na forma de raios gama e neutrinos (partículas neutras leves que escapam para o espaço na velocidade da luz), enquanto os pósitrons que são formados acabam sendo destruídos por seu correspondente em antimatéria, os elétrons.

Observe que a sequência dessas reações usa núcleos de C preexistentes, produzindo temporariamente N e O, concluindo ao final a restituição do C inicial. Tendo também os produtos como He mais pósitrons (e+), neutrinos (ve) e energia.

A evolução prosseguirá principalmente se a estrela possuir MSol suficiente para provocar a ignição do He e se transformará em C pelo processo chamado de “triplo-alfa”:

3 x 4He      12C + e+ + e- + y

A partir destes dois ciclos (p+p e CNO) abre-se o caminho para a compreensão de ciclos nucleares mais complexos e superiores que dão origem à parte dos elementos da tabela periódica e a análise e compreensão dos processos de explosões nucleares. Onde os processos de nucleossíntese são realizados apenas no seu núcleo e não em todo o seu corpo. Dessa forma, os elementos químicos produzidos ficam aprisionados até a conclusão do ciclo evolutivo da estrela, sendo liberado e gerando enriquecimento no meio interestelar e de futuras estrelas (planetas e corpos celestes variados) e por meios de vários possíveis mecanismos de ejeção. Que geram as “nebulosas planetárias”, que são ricas em elementos químicos provenientes de suas estrelas de origem.

O material produzido nos núcleos estelares são ejetados por meio de explosões, que podem ser divididas em dois tipos básicos no meio interestelar: as novas e as supernovas. As novas são explosões de estrelas pertencentes aos sistemas binários (sistema estelar que consiste de duas estrelas orbitando um baricentro - centro de massas – em comum). Enquanto as supernovas são resultantes de colapsos de estrelas massivas, onde a estrela se desmancha por completo no ato da explosão.

O processo de formação dos elementos químicos apresentados até agora descreveram a formação do H, do He, do Li e do C. Não falamos sobre a formação do Boro (B), pois este se forma de maneira especial, a chamada “espalação”, que ocorre pelo processo de nucleossíntese interestelar, consistindo neste caso na colisão de raios cósmicos contra núcleos atômicos. Onde a “espalação” é responsável pela produção de praticamente todo o Li, Be e B existentes no Universo, portanto é um processo fundamental, sendo que apenas uma pequena fração do total de Li e Be foi produzido no Big Bang.

O geólogo Claude Allègre calcula que “apenas 10% das estrelas desempenham um papel fundamental” na variedade dos elementos químicos. Onde apenas 1% das estrelas fabricam elementos pesados e 90% das estrelas limitam-se a queimar H e fabricar He.

Supernovas e a formação do elementos pesados

As estrelas massivas, cuja massa é de no mínimo 8 vezes a do Sol (esse valor é aproximado, pois depende também da composição química da estrela), conclui a sua existência com a explosão e consequente formação de uma supernova. Um evento que é de grande proporção, sendo uma catástrofe. Porém, proporciona a formação de todos os elementos massivos da sequência de massas atômicas pós Ferro (Fe), como demonstrada na tabela periódica (Figura 4). Outra informação importante a ser destacada é que as estrelas massivas possuem ciclos evolutivos muito rápidos.


Figura 4: Tabela periódica em função das nucleossínteses. Disponível em:
https://netnature.wordpress.com/2016/12/01/a-tabela-periodica-e-a-nucleossintese-dos-elementos/. Acessado em 01 de novembro de 2018.

Essa velocidade do ciclo tem relação direta com o tamanho da MSol, pois à medida que a massa aumenta, sua luminosidade também é maior, o que esgota mais rapidamente  o combustível nuclear e, portanto, diminui o tempo de seu ciclo evolutivo.

Diversos estudos compreenderam que as estrelas com 8 a 10 vezes a MSol não chegam a ter temperaturas que permitem a sequência de ciclos mais avançados, resultando em um caroço constituído de Oxigênio (O), Neônio (Ne) e Magnésio (Mg), onde ao ultrapassar o seu limite de pressão o caroço implode e expele os elementos. Para os elementos mais pesados que o Fe, que se encontram na estrela, ao ultrapassar o Limite de Chandrasekhar (equivalente a 1,44 MSol) o núcleo da estrela colapsa quase em queda livre. Após isso, forma-se uma estrutura com 10 a 15 km de diâmetro composta de nêutrons e um caroço agora de Fe e não mais de O-Ne-Mg. A temperatura deste colapso pode chegar a 100 bilhões de Kelvin.

Outra forma de uma estrela evoluir até explodir como supernova é a dos sistemas binários, composto por estrelas extremamente massivas uma próximo da outra, sendo uma delas a anã branca. À medida que uma evolui, pode haver troca de massa até que a anã branca ultrapasse o Limite de Chandrasekhar. Como a anã branca possui uma quantidade relativa de C, este pode ser fusionado para elementos de massa próximos ao Fe.

Com a formação dos núcleos de Fe, ocorrem mudanças na nucleossíntese dos elementos mais leves. A fusão nuclear não é mais exotérmica depois dessas massas atômicas, onde a formação de elementos mais pesados passa a ocorrer especificamente pela captura de nêutrons. Onde essas formações são divididas em dois grupos de captura: processos s (slow – lento) e processos r (rapid – rápido).

O processo s se faz em ambientes que possuam nêutrons livres, mas com densidade baixa, onde um núcleo só poderá capturar um nêutron e emitir um elétron, sendo chamado de decaimento beta nuclear. Esse processo desenvolve a formação de elementos químicos em uma sequência que vai do 57Fe até o 209Bi, como é mostrado uma parte dessas reações no esquema abaixo.

56Fe + n       57Fe

57Fe + n       58Fe

58Fe + n       59Fe       59Co + e-

59Co + n       60Co      60Ni + e-

O processo s tem capacidade de formar até o 209Bi, a nucleossíntese dos elementos mais massivos necessitam de uma fonte mais abundante de nêutrons. Essa alta densidade de nêutrons ocorre durante a explosão de uma supernova, constituindo-se no processo de captura rápida de nêutrons (processo r).

A maior densidade de nêutrons costuma ocorrer durante os primeiros 15 minutos após o colapso de um estrela massiva e a explosão de uma supernova, configurando uma alta densidade de nêutrons e consequentemente a formação de núcleos estáveis mais pesados. Esse processo também é chamado de “nucleossíntese explosiva”.

A partir desta nucleossíntese ocorre a produção de elementos mais pesados, onde dá origem a fusão de elementos leves em elementos com maior peso, criando elementos como Si, S, Cl, Ar, K, Ca, Sc, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co e Ni. Sendo estes denominados de elementos primários, pois podem ser fundidos a partir de H e He puro em estrelas massivas. Enquanto elementos mais pesados que o Ni são formados pelo processo r.

Observe no Gráfico 1 que estes elementos citados anteriormente são muito mais abundantes no espaço, comparando-os aos elementos mais pesados que o Ni.

A estrela chamada de supernova pode ocorrer em dois tipos de cenários:

I) quando uma estrela anã branca passa por uma explosão nuclear e atinge o seu limite de Chandrasekhar[2] e depois absorve a massa de uma estrela vizinha, que normalmente é uma gigante vermelha.

Gráfico 1: proporção dos elementos da tabela periódica exibido em uma logarítmica escala onde a estrutura irregular é visualmente suprimida pelas muitas potências de dez calibradas na escala vertical. Fonte: http://www.astronoo.com/pt/artigos/abundancia-dos-elementos.html. Acessado em 10 de novembro de 2018.

II) se trata de um evento mais comum, sendo causado por uma estrela maciça, normalmente uma supergigante, atingindo o 56Ni relacionado aos processos de fusão nuclear, onde este isótopo tem decaimento radioativo em 56Fe produzindo uma liberação de energia por fusão nuclear exotérmica. Este processo resulta na fusão do material, por altas pressões e densidades, liberando energia e criando uma zona de dispersão do material da estrela para o meio interestelar.

Outras dinâmicas de processos são responsáveis pela nucleossíntese de elementos mais pesados, processos que são conhecidos como processo rp-e, ao qual capturam prótons por meio de fotodesintegração[3] envolvendo o processo-gama (ou processo-p).

Após a estrela finalizar o seu processo de queima de O, seu núcleo se torna composto de Si e S, onde há temperatura suficientemente alta, o Si e demais elementos são fotodesintegrados por energia. A queima do Si é diferente dos estágios anteriormente citados na nucleossíntese, criando uma sequência específica, contrastada por reações inversas tendo captações de partículas-alfa e ejeção.  A sequência é:

28Si + 4He ↔ 32S + fóton;

32S + 4He ↔ 36Ar + fóton;

36Ar + 4He ↔ 40Ca + fóton;

40Ca + 4He ↔ 44Ti + fóton;

44Ti + 4He ↔ 48Cr + fóton;

48Cr + 4He ↔ 52Fe + fóton;

52Fe + 4He ↔ 56Ni + fóton;

e por fim 56Ni + 4He ↔ 60Zn + fóton

A queima explosiva da supernova provoca um choque, passando pela queima de Si, onde este é o principal elemento contribuinte para a nucleossíntese dos elementos do intervalo de massa entre 28 e 60, correspondentes do Ni ao Nd. Isso ocorre porque a estrela não pode mais liberar energia através da fusão nuclear devido um núcleo com 56 núcleons e por possuir menor massa por núcleon. O passo seguinte na cadeia de partículas-α seria o 60Zn, que tem um pouco mais de massa por núcleo e, portanto, é menos termodinamicamente favorável. Mas pela meia-vida do 56Ni ser bastante rápida, em poucos minutos este decaí dentro do núcleo de uma estrela maciça.

Portanto, a formação dos elementos químicos presentes hoje no universo demandou uma complexa relação entre tempo, energia (temperatura), disponibilidade de partículas fundamentas e processos químicos fundamentais e/ou complexos, além da somatória dos processos de nucleossíntese: a primordial, a estelar, a explosiva e a interestelar.

Assim, a base química de toda a terra, os componentes dos constituintes inorgânicos (atmosfera, hidrosfera, litosfera e pedosfera) e orgânicos como a biosfera e noosfera (esfera social) são provenientes de todo este prolongado e complexo processo de formação dos elementos químicos. 

[1] Os isótopos são átomos cujos núcleos têm o mesmo número de prótons, mas números diferentes de nêutrons. Nem todos os átomos do mesmo elemento são idênticos e cada uma dessas variedades corresponde a um isótopo diferente. Cada isótopo do mesmo elemento tem o mesmo número atômico (Z), mas cada um tem um número de massa diferente (A).

[2] quando a massa do núcleo superar um determinado limite.

[3] Fotodesintegração é um processo no qual raios gama de energia extremamente alta interagem com um núcleo atômico e causam uma extrema excitação deste, o qual imediatamente decai em dois ou mais núcleos filhos.

Referências Bibliográficas

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BARRETO, F. C. S.; VAZ, P. R.; FRANCO, G. A. P. 2012. O Universo Vivo. Rev. UFMG, Belo Horizonte, v.19, n.1 e 2, pp.182-205.

COSTA, R. D. D. & HOVARTH, J. E. 2016. A Origem dos Elementos. In: Astrobiologia [livro eletrônico]: uma ciência emergente / Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia. - São Paulo: Tikinet Edição: IAG/USP, pp. 390.

COSTA, R. D. D. 2018. A origem dos elementos químicos. Disponível em: https://youtu.be/snnAWiRHCd4. Acesso em: 11 out. 2018.

MACIEL, W. J. 2004. Formação dos elementos químicos . Revista USP, n. 62, pp. 66-73.

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